Minimalismo

Minimalismo consiste em simplificar a vida eliminando os excessos e mantendo apenas o que é essencial. É um desejo de viver feliz com menos. É uma ferramenta que pode ajudar a todos aqueles que estiverem dispostos a se livrar dos excessos em favor de se concentrarem no que é mais importante para encontrar a felicidade, realização pessoal e, principalmente, liberdade. Se tratando de RPG, o minimalismo é a melhor opção para quem está de saco cheio de jogos modernos que são cheios de regras específicas e cheios de números para decorar.
 

Seu jogo não vai mais precisar de amarras ou coisas demais. Quanto menos coisas inúteis você tiver em um jogo, menos tempo você e os jogadores vão passar decorando tudo. Isso pode resultar em um jogo mais limpo, organizado e também em mais tempo para você fazer coisas mais interessantes em sua partida. Não se dê ao trabalho de abranger todas as possibilidades, use apenas criatividade e improvisação. Jogar dessa forma é mais orgânico, não demora muito para você se sentir livre enquanto joga RPG. Isso é uma grande vantagem, e é isso que torna FKR tão funcional. A criação de personagens deve ser bem simples e rápida. Em um minuto ou menos você estará pronto para jogar o mundo.
 

Como árbitro, tenha uma explicação bem superficial do sistema monetário, armas, armaduras e equipamentos em geral, levando em conta o tipo de cenário. O combate também é algo que tem que ser mínimo, bastante fluido. Você pode até conduzir combates sem o uso de dados.

O mestre de jogo também não irá precisar seguir as mesmas regras para criação de personagens para criar os seus monstros, NPCs e criaturas, ele as projeta da maneira que julgar necessário. Sinta-se livre para fazer os moldes e customizações para que possam ser criados inúmeros tipos de personagens e criaturas para sua mesa de jogo.

No fim das contas, um jogo mais livre é assim mesmo: mínimo. Tudo se trata de pensar pequeno, sem amarras. O que faz a jogatina ser algo mais são as pessoas que estão jogando. Um jogo que não precisa de regras extremamente específicas e uma penca de modificadores e nomes para decorar. As regras são ficam todas na mão do Juiz, é algo exclusivo dele. A função dele enquanto jogador é adjudicar o jogo em tempo real, simples assim.

Assim seu jogo vai ser muito mais dinâmico e descomplicado. Existe espaço de sobra para improviso criativo. É uma experiência única. Seu tempo é gasto focando apenas no essencial, além de tudo ser aberto a outras soluções criativas e que façam sentido no jogo. Você terá a oportunidade de ter um jogo desafiador, com escolhas significativas, e com uma certa letalidade usando como chassi um (não) sistema ultra simples e bem gostoso de jogar.

Jogando sem precisar de dados.

Antigamente, a distinção entre RPG e jogo de guerra não existia. Assim, cada grupo de jogo tinha suas próprias regras e parâmetros.
FKR visa exatamente esse tipo de jogo. Dá pra jogar em qualquer mundo que você quiser, e o que é melhor, você não precisa de dados. Eis uma explicação de como isso é possível.

Você escreve na ficha de personagem somente o que VOCÊ como jogador considerar importante. Você define o personagem com um arquétipo, dá para ele alguns traços que devem incluir pontos fortes, pontos fracos e um conjunto bem simples de equipamento. Sempre que um personagem entrar em conflito com outro personagem ou situação, tem que comparar a habilidade que o personagem está usando com a do lado oposto. O melhor lado vence. Caso incerteza sobre o escopo de uma habilidade, o jogador precisa esclarecer para o mestre. 

Por exemplo, eu escrevi na minha ficha que meu personagem é "Forte pra caramba". O mestre questiona minha habilidade. Eu explico para ele os pormenores da força física dele de forma sucinta e convincente para ajudar ele no julgamento dele.

Conduzir jogos sem dados não requer muito de você. Primeiramente, sempre trabalhe com imagens mentais. Nunca permaneça no nível abstrato das palavras. Esteja ali na cena, não apenas descreva. Se o combate acontecer, reúna informações de seus jogadores, esclareça as intenções de todos eles e sempre se dirija a eles com os nomes de seus personagens, isso aumenta e muito a imersão e a veracidade. Todos nós sabemos, instintivamente, como é o combate, dramático ou não. Construa um filme mental com as descrições de seus jogadores e você vai conduzir o combate sem problema nenhum. Leve em consideração as capacidades de seus personagens, saiba o quão limitados eles são para você não se perder. 

Não tenha medo de tomar decisões difíceis. O jogo sem dados impõe decisões sobre você, decisões que, em algum outro jogo, você convenientemente muda nos dados. Você já tem uma impressão geral do que os personagens envolvidos no jogo são capazes ou não de fazer. Um autor que escreve uma cena de ação em um livro não precisa rolar dados, e você também não precisa. Apenas imagine a cena. Veja a luta acontecendo na sua frente. A ordem dos eventos flui naturalmente a partir daí. Confie nos seus instintos. Jogue RPG sem dados com frequência. A prática leva à perfeição.

Retorno à simplicidade.

Nos primórdios da existência, os filhotes de cinodite, o ancestral pré-histórico do cão doméstico, simulavam lutas de brincadeira como treino para as caçadas que viriam. Anos mais tarde, os homens das cavernas passavam, ao redor da fogueira que os protegeria pela noite, através de atuações, gestos e desenhos, sua cultura rudimentar própria e pessoal. Histórias de caçadas ferozes, de grandes feitos e de amores inesquecíveis. E quantas vezes aqueles que ouviam tais feitos não se sentiam inspirados e, algumas vezes, imaginavam-se na pele dos personagens?

Nos dias que viriam, os dias de muito antes da invenção da TV e do rádio, dos automóveis, dos computadores, do vídeo-game e dos celulares, as pessoas costumavam se sentar à varanda de suas casas para contar histórias juntamente com seus parentes e amigos. Nos tenros tempos de infância, as crianças brincam e muito. Tais brincadeiras são muitas vezes porta de entrada para o fantástico mundo dos jogos de interpretação de papéis. As velhas brincadeiras de "cowboys e índios" e de "polícia e ladrão". Todos nós brincamos disso um dia (ou ainda o fazemos). Todos nós já jogávamos RPG e não sabíamos. Todos nós já encarnamos o papel de um policial ou de um ladrão, que trocavam tiros, participavam de perseguições perigosas e tudo mais. Esse tipo de coisa era possível graças à nossa IMAGINAÇÃO.

É por isso que surgiu a Free Kriegsspiel Revival. A FKR é um resgate a essa simplicidade, oriunda de uma época em que os RPGs comercializados não existiam. Jogar deste jeito mais livre requer uma imersão maior dos jogadores ao eliminar para eles o maior número de acessórios do jogo, como informações demais na ficha de personagem, regras e jargões de regras. 

Em alemão, kriegsspiel significa simplesmente "jogo de guerra". Os jogos de guerra foram inventados principalmente por oficiais militares prussianos nos idos 1800 como uma ferramenta para simular escaramuças no campo de batalha. Embora fossem usados para treinar novatos, eles ficaram bem populares fora dos círculos militares. Antigamente, a distinção entre roleplaying games e kriegsspiel não existia. Era tudo caldo do mesmo pirão. Os RPGs era chamados de "free kriesspiel" (jogo de guerra livre), justamente por terem uma espécie de kriegsspiel como base, porém extremamente simplificado e muito mais livre. Não existiam RPGs comercializados ainda, portanto, cada grupo de jogo tinha suas próprias regras e parâmetros.

Na prática, um jogo Free Kriegsspiel traz uma base bem simples, sólida e flexível para você utilizar da melhor maneira que quiser sem perder muito tempo com detalhes. O foco fica na experiência de jogo, na diversão e na história, bem longe das regras. Ao jogar, você se dispõe de um sistema de regras simples, sem muitos detalhes e características nas fichas de personagem. Tem que ser tão simples ao ponto de você conseguir explicar a criação de personagens e o jogador conseguir criar o personagem em 10 minutos ou menos. O importante é encarar o jogo como uma diversão, com muita criatividade e imaginação. Evite discussão de regras ou papo sobre elas no meio do jogo ao máximo. Faça julgamentos rápidos e justos, explicando brevemente sua decisão e siga em frente com o jogo. Fale com seu grupo e certifique-se que eles também evitarão esse tipo de comportamento.

Em resumo, FKR é um retorno às verdadeiras raízes do hobby. Um movimento que revive o "RPG ancião", que por sua vez trás apenas o essencial para se jogar, deixando de lado tudo que você pode não precisar, e dando espaço para bastante imaginação, interpretação e cooperação. Free Kriegsspiel é um retorno à simplicidade, praticidade e rapidez. Chame seu filho ou seu sobrinho para jogar com você, mostre como é fácil e divertido. Vale a pena conhecer FKR, principalmente se você tem curiosidade para vivenciar este que é o jogo de RPG mais antigo de todos os tempos.