Nos primórdios da existência, os filhotes de cinodite, o ancestral pré-histórico do cão doméstico, simulavam lutas de brincadeira como treino para as caçadas que viriam. Anos mais tarde, os homens das cavernas passavam, ao redor da fogueira que os protegeria pela noite, através de atuações, gestos e desenhos, sua cultura rudimentar própria e pessoal. Histórias de caçadas ferozes, de grandes feitos e de amores inesquecíveis. E quantas vezes aqueles que ouviam tais feitos não se sentiam inspirados e, algumas vezes, imaginavam-se na pele dos personagens?
Nos dias que viriam, os dias de muito antes da invenção da TV e do rádio, dos automóveis, dos computadores, do vídeo-game e dos celulares, as pessoas costumavam se sentar à varanda de suas casas para contar histórias juntamente com seus parentes e amigos. Nos tenros tempos de infância, as crianças brincam e muito. Tais brincadeiras são muitas vezes porta de entrada para o fantástico mundo dos jogos de interpretação de papéis. As velhas brincadeiras de "cowboys e índios" e de "polícia e ladrão". Todos nós brincamos disso um dia (ou ainda o fazemos). Todos nós já jogávamos RPG e não sabíamos. Todos nós já encarnamos o papel de um policial ou de um ladrão, que trocavam tiros, participavam de perseguições perigosas e tudo mais. Esse tipo de coisa era possível graças à nossa IMAGINAÇÃO.
É por isso que surgiu a Free Kriegsspiel Revival. A FKR é um resgate a essa simplicidade, oriunda de uma época em que os RPGs comercializados não existiam. Jogar deste jeito mais livre requer uma imersão maior dos jogadores ao eliminar para eles o maior número de acessórios do jogo, como informações demais na ficha de personagem, regras e jargões de regras.
Em alemão, kriegsspiel significa simplesmente "jogo de guerra". Os jogos de guerra foram inventados principalmente por oficiais militares prussianos nos idos 1800 como uma ferramenta para simular escaramuças no campo de batalha. Embora fossem usados para treinar novatos, eles ficaram bem populares fora dos círculos militares. Antigamente, a distinção entre roleplaying games e kriegsspiel não existia. Era tudo caldo do mesmo pirão. Os RPGs era chamados de "free kriesspiel" (jogo de guerra livre), justamente por terem uma espécie de kriegsspiel como base, porém extremamente simplificado e muito mais livre. Não existiam RPGs comercializados ainda, portanto, cada grupo de jogo tinha suas próprias regras e parâmetros.
Na prática, um jogo Free Kriegsspiel traz uma base bem simples, sólida e flexível para você utilizar da melhor maneira que quiser sem perder muito tempo com detalhes. O foco fica na experiência de jogo, na diversão e na história, bem longe das regras. Ao jogar, você se dispõe de um sistema de regras simples, sem muitos detalhes e características nas fichas de personagem. Tem que ser tão simples ao ponto de você conseguir explicar a criação de personagens e o jogador conseguir criar o personagem em 10 minutos ou menos. O importante é encarar o jogo como uma diversão, com muita criatividade e imaginação. Evite discussão de regras ou papo sobre elas no meio do jogo ao máximo. Faça julgamentos rápidos e justos, explicando brevemente sua decisão e siga em frente com o jogo. Fale com seu grupo e certifique-se que eles também evitarão esse tipo de comportamento.
Em resumo, FKR é um retorno às verdadeiras raízes do hobby. Um movimento que revive o "RPG ancião", que por sua vez trás apenas o essencial para se jogar, deixando de lado tudo que você pode não precisar, e dando espaço para bastante imaginação, interpretação e cooperação. Free Kriegsspiel é um retorno à simplicidade, praticidade e rapidez. Chame seu filho ou seu sobrinho para jogar com você, mostre como é fácil e divertido. Vale a pena conhecer FKR, principalmente se você tem curiosidade para vivenciar este que é o jogo de RPG mais antigo de todos os tempos.
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